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#11

Recognition Processes for Complex Words

Maria Isabel Trindade

07/10/20, 13:30

Talk

Portuguese

O presente trabalho procura contribuir para o estudo do processamento de palavras complexas, partindo da análise das respostas geradas pelos participantes num teste de associação de palavras. O processamento de palavras complexas que integram diversos afixos, como irrealizabilidade, é uma matéria pouco estudada (cf. Rodrigues, 2017a; Rodrigues, 2017b) e que suscita diversas questões sobre o seu reconhecimento e interpretação. 


Considerando que a frequência de ocorrência destas palavras é muito baixa (como se pode confirmar no Corpus de Referência do Português Contemporâneo), o reconhecimento destas formas deve basear-se na sua segmentação e reconhecimento dos diversos constituintes morfológicos. Considerando, por outro lado, que a associação de palavras suscitada por palavras morfologicamente complexas recorre frequentemente a palavras da mesma família, elaborámos um teste deste tipo de modo a observar qual a forma mais frequentemente escolhida (se a base imediata, uma forma intermédia ou o radical mais encaixado) e como pode essa escolha ser interpretada. 


Este estudo foi desenvolvido no quadro apresentado em Villalva e Pinto (2018). O questionário utilizado incluiu 7 advérbios em -mente (cf. desalinhadissimamente) e 13 nomes de diferentes tipos morfológicos (cf. antihiperfacilitação, pseudoreencaminhamento, indesmentibilidade), formados por afixação recursiva com pelo menos três afixos. O inquérito foi disponibilizado online através do Google Forms. A amostra é constituída por 24 indivíduos adultos, falantes nativos de Português Europeu. A análise realizada considerou apenas as duas formas que obtiveram mais respostas. 


Os resultados revelam que a frequência de uso das palavras dadas como resposta não desempenha um papel importante, dado que a escolha feita pela maior parte dos informantes é quase sempre coincidente com palavras menos frequentes do que a escolha seguinte (cf. desafinado (0,24) vs. afinado (0,5); facilitação (0,98) vs. fácil (91,23); injustificável (1,9) vs. justificação (31,71)). Por outro lado, a resposta parece estar diretamente relacionada com a natureza categorial do estímulo. Nos advérbios em -mente, por exemplo, a resposta preferencial corresponde ao adjetivo que está na base do advérbio, sendo a presença do sufixo modificador negligenciada (cf. desalinhadissimamente-desalinhado; desafinadissimamente-desafinado). A segunda resposta preferencial recai, de forma muito sistemática, sobre o adjetivo que não foi o mais escolhido, (i.e., alinhado, afinado). Diferentemente, nos nomes de ação (em -ção e -mento), a resposta preferencial recai sobre uma forma nominal, que é geralmente a base imediata, excluindo os prefixos que têm escopo sobre toda a palavra (cf. antihiperfacilitação - facilitação; hiperdespenalização - despenalização; pseudoreencarnaçãozinha - reencarnação). A segunda escolha preferencial recai sobre a palavra simples que corresponde ao radical mais encaixado (cf. antihiperfacilitação - fácil; hiperdespenalização - pena). 


Em suma, as respostas mais recorrentes fazem uso de palavras pertencentes à família morfológica da base, mas variam, de forma bastante sistemática, de acordo com os afixos que estão presentes e a natureza categorial da estrutura morfológica das palavras-estímulo. Assim, os afixos modificadores com escopo sobre toda a palavra-estímulo são sistematicamente descartados; os advérbios de modo são relacionados com formas adjetivais e os nomes de ação deverbais parecem facilitar o acesso ao radical mais encaixado. É necessário aprofundar estes testes para obter respostas mais seguras, mas pode extrair-se, desde já, a conclusão de que a gramática morfológica dos falantes desempenha um papel importante na descodificação deste tipo de estímulos. 


Referências 

  • RODRIGUES, Alexandra Soares (2017a), O processamento de lexemas com combinação afixal múltipla no português europeu. Revista da Associação Portuguesa de Linguística, 3 (285-310). 

  • RODRIGUES, Alexandra Soares (2017b), Limits on the extension of affixal combination: structural restrictions and processing conditions. Suvremena Lingvistika, p. 49-103. 

  • VILLALVA, Aline e PINTO, Carina (2018) Complexidade Morfológica e Custos de Processamento Lexical, Alfa: Revista de Lingüística, vol. 62 (1), p. 151-172.

Keywords:

morphology, word processing, Portuguese, complex words, psycholinguistics

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